Estresse com trânsito afeta produtividade do trabalhador
Pará - Uma pesquisa recente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) aponta que o deslocamento da população nos trajetos casa-trabalho e trabalho-casa aumenta em 20% nas regiões metropolitanas do País, incluindo a de Belém, chegando à média de 40 minutos cada um. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fez um levantamento semelhante, no ano passado, e chegou a mesma conclusão. Mas, apontava que muitas pessoas levavam mais de uma hora em cada trajeto. A má gestão dos sistemas de transportes públicos ou excesso de veículos nas vias causam congestionamentos e afetam diretamente a produtividade do trabalhador. Na Grande Belém, a quem aponte média de uma hora em cada deslocamento sem imprevistos no trânsito. Nos relatos, o tempo de deslocamento da população da Grande Belém aumentou em 50%.
Esse aumento causa mais estresse, cansaço, impaciência, intolerância e piora a qualidade de vida das pessoas, já que o trabalhador vai dormir cada vez mais tarde e precisa acordar cada vez mais cedo para não chegar atrasado no serviço. Para os condutores de veículos, essas condições psicológicas são perigosas, pois é preciso estar 100% alerta ao dirigir, aumentando a possibilidade de acidentes. Trânsito lento também significa o aumento do gasto de combustível (afetando diretamente o orçamento das famílias), maior indíce da poluição sonora, crescimento da poluição atmosférica e elevação da temperatura. No serviço público, essa lentidão significa demora no atendimento de ocorrências policiais ou nos resgates em situações de urgência e emergência.
In loco- O LIBERAL fez um teste de deslocamento saindo de ônibus urbano em frente ao prédio da Prefeitura de Ananindeua, localizado na rodovia BR-316, até a Avenida Portugal, no centro comercial de Belém, em dois dias diferentes: no feriado de 7 de setembro (Independência do Brasil) e em uma terça-feira normal. No primeiro dia, sem trânsito significativo por conta do feriado, o deslocamento levou exatos 60 minutos. No segundo dia, o mesmo trajeto levou uma hora e 39 minutos. Porém, o segundo teste teve o trânsito normal de 437.929 veículos que circulam pelos municípios de Belém, Ananindeua e Marituba, como aponta o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) do Pará, e com a redução da pista da Avenida Almirante Barroso por conta das obras do BRT (sigla em inglês para Bus Rapid Transit ou ônibus de trânsito rápido). Os ônibus, nos dois casos, estavam superlotados em boa parte do trajeto, o que aumentou o desconforto dos passageiros.
O motorista de ônibus Israel Souza, de 27 anos, trabalha na linha Maguari-Pátio Belém (Ananindeua) há quatro anos. Quando começou a trabalhar, o tempo para fazer o trajeto do final da linha, no bairro do Paar, até o centro comercial da capital, era de 50 a 60 minutos. Atualmente, esse tempo subiu para a média entre duas horas e duas horas e meia (por causa das obras do BRT). Não fosse por isso, esse tempo seria, em média, de uma hora e meia.
'Eu me canso desde a primeira viagem. Os passageiros também cansam e reclamam, mas não podemos fazer nada. Tem muitos carros particulares para pouco espaço nas ruas. Infelizmente, acho que o BRT não vai fazer as pessoas deixarem o carro para pegar ônibus. Muitos compraram veículo para fugir do transporte público e essa compra ficou muito mais fácil. Eu tenho meu carro e não trocaria', opinou.
O trajeto dele de casa para o trabalho é curto e é feito em 15 minutos, mas praticamente não há trânsito na hora em que sai para trabalhar. Por outro lado, a volta, antes feita em 20 minutos, mais que dobrou nos últimos quatro anos para 50 minutos ou uma hora.
Deslocamento - A opinião de Israel é correta para o coordenador de Planejamento do Detran do Pará, Carlos Valente, que é psicólogo especialista em trânsito. Ele observa que a longa falta de investimentos em infraestrutura viária, na qualidade e eficiência do transporte público e a facilidade em comprar veículos, fizeram com que a população apelasse para o transporte próprio. A estimativa é de que 95% da frota de 437.929 veículos circulando na Grande Belém sejam de carros, motos e caminhonetes. Desses 95%, quase 100% são veículos particulares. Essa quantidade de veículos faz com que em determinados corredores e em horários específicos, a velocidade média seja de 15 a 20 quilômetros por hora, mas em alguns momentos não chega nem a 10 Km/h por hora.
Na Almirante Barroso, por exemplo, essas velocidades representam de um sexto a um terço da velocidade máxima permitida (60 Km/h). Há quem leve meia hora para percorrer toda a extensão da via que tem cerca de 6,5 quilômetros.
Fonte: O Liberal