Mulher relata abuso sexual em hospital
Brasil, A cada dia, são 109 novas denúncias de estupro no país. Uma das últimas vítimas é uma mulher que diz ter sido abusada sexualmente por um técnico de enfermagem, dentro do CTI de um grande hospital carioca.
“Eu me sentia extremamente vulnerável, incompetente, e eu tava apavorada com o que ele poderia fazer quando eu tivesse dormindo, quando não tivesse ninguém olhando”, diz a paciente.
Uma mulher de 36 anos conta ter passado por momentos de desespero. O cenário foi um hospital particular no Rio de Janeiro, o Quinta D'or, um dos maiores da cidade.
No dia 9 de maio, ela sofreu uma cirurgia no fígado. Depois de oito horas de operação, ela foi encaminhada ao centro de Terapia Intensiva do hospital.
Fantástico: Quando você acordou da cirurgia, o que você se lembra?
Paciente: Eu estava impossibilitada de mover, não conseguia virar para os lados. Não conseguia levantar a voz, não conseguia respirar direito sem sentir dor. Foi nesse cenário que eu sofri o primeiro abuso. Eu tava deitada, eu to mais inconsciente do que consciente, e tem uma pessoa se esfregando em mim sexualmente.
A paciente conta que isso aconteceu na madrugada do dia 10 para o dia 11 de maio, quando ela estava no leito do CTI. O Fantástico teve acesso às imagens da câmera de segurança do corredor. Pela denúncia da paciente, as imagens mostram quem é o técnico de enfermagem que teria abusado dela sexualmente. Brivaldo Xavier prestou depoimento à polícia esta semana e negou tudo.
Nas imagens captadas pelas câmeras de segurança do hospital, a polícia encontrou vários momentos que chamaram a atenção.
“Ele faz um atendimento à paciente. Ele tá com o equipamento de proteção. Luva, avental e a máscara. Portanto, é a forma ideal de atender uma paciente que está em isolamento porque submeteu-se a uma cirurgia de grande porte”, explica o delegado Maurício Luciano de Almeida.
Fantástico: Esse foi o único momento em que ele apareceu assim?
Delegado: Foi o único momento.
Mas, para polícia, Brivaldo disse que usou luva e capote, uma espécie de avental, em todos os contatos com a paciente. “Nós verificamos que num plantão de 12 horas ele ingressou no leito dela 20 vezes, embora ele não fosse responsável por aquela paciente”, diz o delegado.
A imagem reforça a suspeita do delegado: “Uma outra funcionária entra no quarto da vítima. Primeira coisa que faz é acender a luz e a cortina está aberta. Ele aparece na entrada do quarto, fica olhando o procedimento dela. Quando ela sai e apaga a luz, ele entra,não acende a luz e ali permanece mais uma vez. Então vê a diferença entre um procedimento e outro”.
Em um outro momento, as imagens mostram que ele chegou a ficar quase 30 minutos no leito. O técnico de enfermagem disse à polícia que foi diversas vezes ao leito porque um monitor estava apitando e incomodando a paciente. Mas isso não consta no prontuário médico dela.
Fantástico: No início, você achou que poderia ser uma alucinação por causa da medicação?
Paciente: Da medicação, achei. Naquele primeiro momento, eu não sabia se a coisa tinha ocorrido ou não.
Fantástico: Quando você teve certeza?
Paciente: Eu tive certeza absoluta que aquilo tinha ocorrido quando ocorreu o segundo episódio.
Na manhã do dia 12 de maio, a paciente já tinha saído do leito para um quarto do CTI.
Paciente: Algum tempo depois de eu acordar, que foi no horário do banho, entra uma menina e ele.
Fantástico: E o que você sentiu na hora, se assustou?
Paciente: Gelei. Porque ele tava de volta.
O banho foi dado na cama, com panos e esponjas.
Paciente: Depois que eu estava nua no leito, ele vira para menina e pede para ela sair, ir lá checar no prontuário alguma coisa.
Sozinha com ele, a paciente conta que foi tocada de forma inadequada.
Fantástico: E ele dizendo que só estava...
Paciente: Só tava dando banho. Eu falei não, não tava dando banho nada. Isso não faz parte do procedimento de banho.
No depoimento que prestou à sindicância interna do hospital, o técnico disse que pediu para a auxiliar para sair do quarto e checar no prontuário médico se a paciente precisava de mais soro. Como era seu primeiro dia naquele setor, achou melhor atender o pedido do colega.
Há outras contradições nos depoimentos do acusado e da auxiliar. Brivaldo disse que a auxiliar ajudou na higiene íntima da paciente. Em depoimento, ela nega.
No dia seguinte, a paciente contou tudo para o namorado.
Fantástico: E eu fiquei com aquilo na cabeça. Isso vai acontecer de novo se eu não fizer nada a respeito.
O hospital Quinta D'or abriu uma sindicância interna e demitiu o técnico de enfermagem por quebra de protocolo. Em nota, diz que na hora do banho, é exigida a presença de dois funcionários. Brivaldo Xavier foi indiciado pela polícia por estupro de vulnerável, quando a pessoa não tem condições de se defender. “Segunda-feira vamos encaminhar o inquérito devidamente relatado para Justiça”, diz o delegado. A pena prevista para este crime é de oito a quinze anos de prisão.
Fantástico: Ele pode ser condenado sem provas físicas, sem a paciente ter feito exame corpo de delito?
Delegado: Sem dúvida nenhuma. Com base apenas na palavra da vítima, se ela for coerente, corroborada por outros elementos indiciários, pode ser suficiente inclusive para uma condenação.
As cenas gravadas pelas câmeras de segurança do hospital foram fundamentais para embasar as acusações da paciente e as suspeitas da polícia.
O Fantástico não encontrou o técnico de enfermagem no endereço que ele deu ao hospital e nem no endereço informado à polícia. Também tentamos contato por telefone, mas Brivaldo não atendeu às ligações.
Paciente: Eu quero que esse cara vá pra cadeia. O que aconteceu comigo pode ter acontecido com outras pessoas. Sabe-se lá se ele não fez isso antes ou se, porque ele conseguiu comigo a primeira vez, não vai fazer isso com outras.
Fonte: Globo.com